Aluno: Hevariston da Rocha Cordeiro
Curso: Administração Itaperuna – 3º Período
Nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, podemos observar que a emigração de brasileiros para o exterior -principalmente para os Estados Unidos- sofreu um aumento significativo. Inúmeras pessoas buscam maiores oportunidades de emprego com uma lucratividade satisfatória fora do Brasil, com o objetivo de acumular dinheiro para que no futuro, quando já estabilizadas financeiramente, possam retornar ao país e recomeçar suas vidas.
De acordo com Oliveira (1997) um exemplo bastante elucidativo desta situação pode ser visto no fluxo migratório de brasileiros em direção ao Japão, os chamados “movimentos dekassegui”. O objetivo desses movimentos era o acúmulo rápido de capital financeiro, que aplicava num retorno já de antemão para o país. O mesmo acontece com o fluxo de brasileiros para os EUA, no qual o projeto inicial dos imigrantes é temporário, o que significa: ir, trabalhar, juntar dinheiro e retornar para o Brasil com a vida estabilizada, no entanto, esse projeto não está sendo concretizado, pois está cada vez mais, ocorrendo uma ampliação no tempo de permanência desses emigrantes nos Estados Unidos. Esse aumento no tempo de permanência fora do Brasil está resultando nas chamadas Redes Sociais de Migração, processo no qual “um migrante puxa o outro”.
E é dessa forma que os jovens brasileiros chegam aos EUA- articulados à essas redes familiares- acompanhando seus pais, parentes e amigos, num processo de reunificação familiar.
Ao chegarem a seus respectivos destinos esses jovens são inseridos na sociedade americana com diferentes status migratórios que de acordo com Menezes (2003) dividem-se entre:
● Jovens que nasceram no Brasil e migraram pequenos para os EUA sendo considerados ilegais por serem filhos de migrantes indocumentados.
●Jovens que nasceram nos EUA, filhos de pais brasileiros, que, portanto possuem cidadania norte- americana.
Com o passar do tempo e de acordo com que os
jovens vão se adaptando ao “novo mundo”, eles percebem que esse status
migratório que recebem torna-se um impedimento para que possam dar continuidade
aos seus estudos, pois os imigrantes indocumentados possuem acesso às escolas
públicas até o fim do ensino médio, porém o ingresso nas universidades através
de bolsas de estudos é destinado a apenas cidadãos norte-americanos.
Esse fato pode significar se um jovem possuirá ou não um diploma, já que as redes de ensino universitárias privadas possuem um custo elevado, e determinar se um jovem retornará para o Brasil ou permanecerá nos Estados Unidos. Diante disso os jovens brasileiros sentem-se discriminados e acabam sofrendo uma crise de identidade já que o sistema educacional norte-americano introduz uma diferença crucial entre um jovem imigrante e um jovem norte-americano.
Uma pesquisa realizada por Motta (2004) entre jovens brasileiros em Boston mostra que as diferenças entre a educação brasileira e a americana não se restringem a apenas através do conteúdo curricular, mas também pelo modo de se vestir e principalmente na maneira como os estudantes se comportam uns com os outros, os jovens brasileiros expressam seu carinho e sua amizade por meio de abraços e proximidades, no entanto, nas escolas estadunidenses ocorre exatamente o oposto, os jovens norte- americanos possuem uma distância social mais ampla que é sempre respeitada.
Esta questão do pertencimento étnico ou não aos Estados , faz com que os jovens se sintam confusos em relação à sua identidade, pois eles dominam melhor o inglês do que o português, e vivenciam o jeito americano de viver, ao mesmo tempo que convivem com a brasilidade transmitida pelos seus pais e familiares brasileiros, transitando entre as duas nacionalidades Brasil e Estados Unidos.
Outro exemplo de grande importância para essa intensa emigração brasileira para os EUA é o caso de Massachusetts, pesquisado por Oliveira (1997), onde brasileiros têm se destacado por sua capacidade empreendedora e de “hard-working”, colaborando no restabelecimento de centros decadentes da cidade em pontos comerciais e de circulação novamente. Com isso o Brasil insere-se nos novos fluxos internacionais de mão-de-obra, acentuando sua imagem de país de imigrantes. Porém, é justamente essa capacidade de empreendimento a maneira encontrada por diversos trabalhadores brasileiros para efetivarem seus sonhos de consumo e serem de certa forma incluídos dentro da sociedade estadunidense.
Existem também outros lugares com grande índice de brasileiros, como por exemplo as cidades da Flórida:
● Tampa e Boca Ranton com população estimada de 2.000 brasileiros cada cidade, e sendo essa população de classe média alta ou alta.
● Pompano Beach segundo pesquisas, com população brasileira de 12.000 habitantes e que hoje trabalham nos mais variados setores, como lavadores de pratos, pedreiros ou jardineiros, sendo essa população, uma concentração de maior baixa renda localizada na Flórida.
● Fot Lauderdale, sendo essa cidade a grande maioria de classe média e conta com aproximadamente uma população de 10.000 pessoas.
● Orlando, também com uma população de 10.000 brasileiros, e sendo a grande maioria formada por empreendedores, inclusive muitos saídos de Miami, numa segunda migração, desta vez por região.
● Miami, tendo aproximadamente uma população de 100.000 brasileiros, sendo a mais antiga e de maior população da região da Flórida e ainda tendo uma grande diversidade, desde as pessoas de classes mais abastadas, assim como grande parte dos empreendedores de classe média (Oliveira, 1997).
De acordo com a autora Adriana C. de Oliveira, o que podemos explicar sobre os motivos que fizeram essas pessoas partirem do Brasil rumo a uma tentativa de melhoria de vida no exterior, foi pelas desilusões econômicas, frustrações quanto ao poder aquisitivo partilhado no Brasil, ou mesmo às condições frágeis da cidadania brasileira. Mesmo também que a situação econômica nacional tenha melhorado a trilha aberta para o exterior continua a atrair muita gente. As redes sociais, por um lado, e o recrutamento ativo, por outro, mantém em alta a dinâmica internacional (Fusco, 2007).
Referências Bibliográficas:
– FUSCO, W. Migração e Redes Sociais: a distribuição de brasileiros em outros países e suas estratégias de entrada e permanência, Campinas, 2007.
– ADRIANA CAPUANO DE OLIVEIRA – UNICAMP. A Emigração de Brasileiros para os Estados Unidos – o caso de Miami.
– OLIVEIRA, Adriana Capuano de – japoneses no Brasil ou Brasileiros no Japão? A trajetória de uma identidade em um contexto migratório, Dissertação de Mestrado Apresentada ao Departamento de Sociologia do IFCH, UNICAMP, Campinas, agosto de 1997.
– SALES, Teresa – “ Identidade Étnica entre imigrantes brasileiros na região de Boston’’ in: SALES, Teresa & REIS, Rossana Rocha – Cenas do Brasil Migrante, Boitempo Editorial, 1º edição, São Paulo, 1999.
– SALES, Teresa – Brasileiros longe de Casa, Ed. Cortez, Primeira Edição, São Paulo.
– Gláucia de Oliveira, Gisele Meriz e Natália Cristina Ihá – FAED/ UDESC: A Segunda Geração de Emigrantes Brasileiros Rumo aos Estados Unidos: Problemas e Perspectivas.
– MENEZES, Gustavo Hamilton. Brasileiros “Filhos da imigração: sobre a segunda geração de imigrantes nos Estados Unidos’’. MARTES, A.C.B e FLEISCHER, S.R.(org.) Fronteiras Cruzadas: entidade, gênero e redes sociais. São Paulo: Paz e Terra, 2003, p.157-175.
– MOTTA, Kátia. Aulas de português fora da escola: famílias imigrantes brasileiras, esforços de preservação da língua materna. Caderno Cedes, Campinas, vol. 24, n. 63, p.149-163, mai/ ago, 2004.