Ensaio 13

Curadoria: Eduardo Picanço Cruz :. D.Sc.

O ponto fundamental do empreendedorismo de imigrantes

Niterói, 13 de abril de 2023

Eduardo Picanço Cruz, D:. Sc:.

Durante muitos destes anos que estudamos o empreendedorismo percebemos que diversos autores, professores e consultores tratam coisas diferentes como se fossem tudo a mesma coisa. Neste sentido, tendem a achar que é possível generalizar seus achados para os mais diferentes tipos de negócios e pessoas empreendedoras.

Mas antes de aprofundarmos no tema do presente ensaio é preciso modificar a ideia de que o empreendedor é aquela pessoa que abre um negócio. Nas minhas palestras sobre o tema, sempre apresento o seguinte slide:

Não cabe, neste ensaio, discutir o que é e o que não é empreender. Essas primeiras palavras servem apenas para fundamentar o seguinte argumento: não basta ser pesquisador de empreendedorismo, ou de gestão, para achar que tem fundamentos para orientar empreendedores imigrantes em suas iniciativas – as realidades são distintas.

Voltando ao slide anterior, as ferramentas que fundamentam as estratégias de um empreendedor acadêmico, por exemplo, não são as mesmas de alguém que está tomando decisões que envolvem sua carreira pessoal. Um outro exemplo, e desta vez mais prático, é: as ferramentas de avaliação de investimento usadas para analisar uma Loja provavelmente não ajudarão na análise de um projeto social. Contextos diferentes necessitam de ferramentas (teorias) diferentes.

Particularmente no que se refere ao título do ensaio, destaco que o ponto central para entender o sucesso de um negócio de um imigrante brasileiro é conhecer a realidade da população que o cerca. Especificamente, estamos falando da existência, ou não, de uma comunidade de imigrantes, preferencialmente de brasileiros – no nosso caso.

Essa deve ser a primeira informação que o futuro empreendedor deve buscar. O tamanho da comunidade de nacionais brasileiros tem muita influência na potencialidade dos seus negócios. Isso não significa que o sucesso de uma empresa depende da quantidade de brasileiros – existem casos exitosos em grandes comunidades ou em cidades isoladas.

A questão é, quando se abre uma empresa em uma cidade onde não há brasileiros e você resolve vender pão de queijo, por exemplo, é você quem deve se esforçar não só para fazer esse público experimentar, bem como para adaptar a receita ao gosto deles. Porém, se existe uma comunidade de brasileiros na localidade, é possível seguir a mesma receita tradicional que você está acostumado a fazer e usar o consumo dos brasileiros como trampolim para o consumo dos locais. Eles mesmo vão fazer suas esposas ou maridos (nacionais) experimentarem um produto nosso.

OU SEJA, A EXISTENCIA OU NÃO DE UMA COMUNIDADE DEVE SER DETERMINANTE PARA IDENTIFICAR O TIPO DE NEGÓCIO QUE SE PRETENDE ABRIR.

Além disso, a existência ou não de uma comunidade vai orientar a criação de nossa network comercial. Isso significa que outros brasileiros podem ser seus fornecedores, importadores, contadores ou advogados. Sabemos, entrevistando brasileiros e estudando o empreendedorismo de imigrantes, que tratar de negócios com pessoas de mesma origem é sempre mais fácil, uma vez que conhecemos nossa cultura e a nossa maneira de fazer negócios.

Uma vez, uma embaixadora brasileira me contou: “quando um americano quer fazer negócio com você e te chama para conversar em um restaurante ele quer fechar a questão lá – time is money (conhecemos essa expressão). Mas no caso de um Japonês, por exemplo, já sair falando de negócios no primeiro jantar pode ser considerado uma ofensa. Esse primeiro encontro é para estreitar relações, não para discutir negócios”.

Tratar com brasileiros pode não ser mais fácil do ponto de vista comercial, mas certamente o é do ponto de vista relacional. Conhecemos uns aos outros, sabemos o que esperar e o que não esperar de nós mesmo. Mas o importante é reforçar, novamente, que não estamos afirmando que os negócios de imigrantes brasileiros só dão certo através de redes intra-brasileiros. O erro é:

Exemplo 1: tratar um empresário português como se fosse um Brasileiro e achar que ele vai entender todas as nossas expressões, idiomáticas ou corporais; ou

Exemplo 2: tratar um empresário brasileiro como se fosse um inglês e achar que ele vai repetir o comportamento dos outros fornecedores ingleses que você tem em Londres.  

OU SEJA, A EXISTENCIA OU NÃO DE UMA COMUNIDADE DEVE SER DETERMINANTE PARA IDENTIFICAR O ‘COMO FAZER NEGÓCIOS’.

Por fim, falaremos de ações de marketing e divulgação. Uma vez uma empresária brasileira na Suíça, dona de um restaurante, me contou que ficou três semanas anunciando uma carne cozida – receita tradicional de sua mãe brasileira – e que ninguém se interessava por experimentar o prato, mesmo quando ele sugeria. Até que um dia ela escreveu “Brazilian Goulash” e a comida ficou muito mais familiar.

Não adianta usar nossos nomes, paletas de cores e músicas em suas estratégias de divulgação se não há uma comunidade brasileira na região. Neste caso, o ideal é usar apenas palavras mundialmente conhecidas, mesmo que ela não traduza exatamente o que você está fazendo. Como um exemplo bastante simples, chamar uma roda de pagode de SAMBA.
Isso tem muita influência na ambientação do consumidor local com as ‘coisas brasileiras’.

OU SEJA, A EXISTENCIA OU NÃO DE UMA COMUNIDADE DEVE SER DETERMINANTE PARA SUA IDENTIDADE VISUAL.

Só após compreendermos essa realidade é que estaremos preparados para discutir as diferentes estratégias de negócios imigrantes.

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